Käthe Kollowitz

1867-1945

Königsberg, Prússia (Rússia)

Uma mulher forte, de produção potente que refletiu a condição humana da virada do século, Käthe Kollowitz foi tardiamente reconhecida por seu papel no desenvolvimento do expressionismo abstrato. Profundamente impressionada pelo romance “O Germinal”, de Émile Zola, e pela peça “Die Weber”, de Gerhart Hauptmann, começou a realizar séries de gravuras focando em temas sociais e políticos como desigualdade, miséria e morte. Seu trabalho mais conhecido, talvez, seja a série de gravuras realizadas sobre a I Guerra Mundial, na qual empregou a técnica da xilogravura no lugar da técnica que ela já dominava de gravura em metal.

Käthe Kollowitz expôs as mulheres, a classe trabalhadora, a fome e pobreza e a guerra com uma força singular com densas redes de linhas e contrastes de tons claros e escuro. Teve iniciação em pintura, porém posteriormente mergulhou nas artes gráficas, explorando a gravura, escultura, litografia e xilogravuras, encantada pelo poder de distribuição e acessibilidade desses formatos. Seu trabalho tem características únicas e traz à tona temas que são atuais até os dias de hoje.

  1. Retrato de Käthe Kollwitz – autor desconhecido
  2. “For work, one must be hard and thrust outside one-self what one has lived through”, frase escrita em seu diário.
  3. Self-Portrait with Hand on Forehead (1910) – National Gallery of Art, Washington, D.C
  4. The March of the Weavers (Weberzug) (1897) – Stadtmuseum, Munich, Alemanha
  5. Hunger (1923)
  6. In need (1897) – Der Kunstverein in Bremen, Kupferstichkabinett

Suzanne Valadon

1865-1938

Paris, França

Suzanne Valadon foi, sem dúvidas, uma mulher que hoje descreveríamos como “livre”. Provocou verdadeiros rebuliços em seu tempo! Foi modelo e artista autodidata, tendo posado para Renoir, Degas e Toulouse-Lautrec e pintado diversas mulheres nuas, algo bastante transgressor para a virada do século. A função de modelo servia não apenas para sustentar-se, mas como modo de aprender com os grandes artistas para quem posava. Sua obra muitas vezes é ofuscada por sua biografia. Suzanne Valadon foi um ícone do pós-impressionismo não apenas por seu belíssimo trabalho, mas pelos relacionamentos conturbados, incontáveis amantes (incluindo Erik Satie) e vida boêmia que levava. Apesar disso e da falta de treinamento formal, Valadon foi a única mulher a expor na Société Nationale em 1894. Em 1911 realizou sua primeira mostra individual e expôs no Salon des Independants e no Salon D’Automne, ganhando crescente reconhecimento do circuito. Sua obra reflete sua personalidade forte e marcante, com pinceladas firmes e cores vibrantes, e revela sua perspectiva única sobre o corpo feminino e a sensualidade, algo absolutamente diferente das abordagens dos artistas de sua época.

  1. Autorretrato (1898) Museum of Fine Arts, Houston
  2. O Circo (1889) – Cleveland Museu de Arte, Ohio
  3. Lançamento de Redes (1914) – Centro Pompidou
  4. Nus (1919) – MASP
  5. O Quarto Azul, óleo sobre tela (1923) – Centre Pompidou

Mary Cassatt

1844-1926

Pensilvânia, Estados Unidos

Mary Cassatt foi uma artista fundamental no debate da arte feminina ao trazer à tona os problemas da sociedade em relação às mulheres, especialmente no que diz respeito ao preconceito evidente na recusa dos trabalhos de mulheres nos salões e eventos de arte. Aos 15 anos, mesmo sem o apoio da família, Cassatt ingressou na Pennsylvania Academy of Fine Arts, na Filadélfia. Mas logo passou a indignar-se com os limites da formação – segundo ela, lento e conservador – e passou a estudar por conta própria. Mary Cassatt também apoiou o movimento do sufrágio universal e se recusava a ser denominada “artista mulher”, pois defendia ser apenas “artista”. Foi uma das grandes responsáveis pela popularização impressionismo nos Estados Unidos. Sua obra se destaca pela inter-relação entre a cor e a luz, e é composta por uma vasta produção de cenas ao ar livre. Cassatt tornou-se popular por seu trabalho também ao abordar temas familiares e retratar mulheres, com especial atenção a pinturas que singularmente representavam a relação entre mães e filhos.

  1. Mary Cassatt em uma cadeira com um guarda-chuva, no verso está escrito “a única fotografia para a qual ela posou.” (1913) – Coleção de Durant Ruel
  2. Retrato da artista (1878) – Metropolitan Museum of Art, EUA
  3. Woman Bathing (1890-1891) – National Gallery of Art, Washington, DC, USA
  4. Breakfast in Bed (1897) – Huntington Library, San Marino, CA, USA
  5. The Child’s Bath (1893) – Art Institute of Chicago, USA

Mary Moser

1744-1819

Londres, Reino Unido

Para apresentar Mary Moser, é imprescindível apontar que sua importância para o mundo das artes é gigante. Ela e Angelica Kauffman foram as únicas duas mulheres envolvidas na fundação da Royal Academy. Como muitas das artistas de destaque nos séculos XVII, XVIII e XIX, veio de uma família de artistas – seu pai era pintor e a incentivou e iniciou na pintura. Aos 14 anos ganhou um prêmio da Society of Arts pela qualidade de suas pinturas florais. Apesar de ter também realizado retratos e pintado cenas históricos, a perfeição com que pintava flores foi o que lhe deu destaque em vida. Com 24 anos, foi convidada para ingressar na Royal Academy of Arts. Casou-se apenas aos 49 anos, algo quase impossível para a época! Depois disso passou a assinar suas obras como Mary Lloyd. Uma doença, que ocasionou a perda de visão, impediu que Mary Moser continuasse pintando, mas não a impediu de seguir ativa nos assuntos das Assembléias da Royal Academy. E, como uma mulher absolutamente competente, chegou até mesmo a ser indicada à presidência da instituição.

  1. Mary Moser, painted by George Romney (1770-71) – National Portrait Gallery, Londres, UK
  2. Vase of Flowers (s.d.) – Fitzwilliam Museum, University of Cambridge, UK
  3. Spring (ca. 1780) – Royal Academy of Arts
  4. Summer (ca. 1780) – Royal Academy of Arts
  5. Recorte da obra de Henry Singleton na qual aparece Mary Moser e Angelica Kauffman
  6. Henry Singleton, The Royal Academicians in General Assembly (1795) – Royal Academy of Arts

Eva Gonzalès

1849-1883

Paris, França

Eva Gonzalès foi a única aluna formal de Manet. Teve obras expostas ainda em vida e, assim como Manet, nunca expôs em exibições junto com os impressionistas. Sua personalidade nas obras é única. O jogo de luz, a sutileza das pinceladas, quase inacabadas, uma sensibilidade exclusiva para trazer cor aos tecidos fazem de suas obras algumas das mais marcantes do impressionismo. Sua carreira e vida foram tragicamente breves, tendo falecido 1883, aos 34 anos, devido a complicações no parto. Uma exposição em homenagem a Eva Gonzalèz aconteceu com cerca de 90 pinturas e desenhos em pastel, foi realizada em 1885 no Salons de la Vie Moderne, em Paris.

  1. Foto – autor desconhecido
  2. Erwachendes Mädchen (1877 – 1878) – Coleção do Kunsthalle Bremen
  3. Le Chignon (1865 – 1870) – Coleção particular
  4. The Donkey Ride (1880)

Berthe Morisot

1841-1895

Bourges, França

A mais importante entre as mulheres impressionistas, Berthe Morisot dedicou-se à pintura da vida moderna. Como observado por um crítico: “Sua pintura (…) é realmente a impressão captada por um olho sincero”. Morisot destacou-se como a única mulher a expor na primeira mostra dos impressionistas, em 1874. Depois de relutar muito para entrar em um matrimônio, a fim de se dedicar integralmente a pintura, casou-se com Eugène Manet, irmão de Édouard Manet – o nome central do Impressionismo. Isso e o fato de ser amiga íntima de Renoir e outros artistas, por exemplo, não lhe conferia fama ou mais espaço. Sua presença no círculo impressionista não era registrada nas pinturas da época, ainda que Berthe Morisot fosse um nome essencial do grupo, tendo produzido um corpo de trabalho com mais de 60 obras exemplares. Em cartas, relatava conflitos entre administrar suas responsabilidades como esposa, mãe e artista. Mas sabe-se que teve sucesso na administração da carreira e foi muito elogiada e prestigiada ainda em vida. Muitas de suas obras são parte de coleções particulares, tem quadros no Museu Wallraf-Richartz na Alemanha e no Museu de Orsay e no Museu do Impressionismo, em Paris.

  1. Berthe Morisot (1875) – foto de Charles Reutlinger
  2. “Je ne crois pas qu’il n’y ait jamais eu un homme traitant une femme d’égale à egal, et c’est tout ce que j’aurais demandé, car je sais que je le vaux.” Berthe Morisot, frase na abertura de sua exposição no Museu Orsay
  3. Eugène Manet et sa fille au jardin (1883) – Colecionador particular
  4. Campo de trigo (1875) – Museu de Orsay, Paris @museeorsay
  5. Eugène Manet et sa fille dans le jardin à Bougival (1881) – Museu Marmottan, Paris, França

Rosa Bonheur

1822-1899

Bordéus, França

Famosa pela pintura de animais, Rosa Bonheur pode ser considerada uma das artistas mais importantes e prolíficas do século XIX – sua companheira de vida, Anna Klumpke, catalogou mais de 800 de suas obras. Filha mais velha de uma família de artistas, cresceu desenhando e copiando animais de livros e quadros, mas não só isso. Ela estudava anatomia nos abatedouros de Paris e dissecava animais mortos no Instituto Nacional de Veterinária, frequentando aulas de anatomia animal na Universidades de Paris como ouvinte. Mesmo nos raros retratos que fazia, os bichos sempre estavam presentes. Essa prática intensa e sua dedicação desde cedo ao desenho e estudo da fauna levam Rosa Bonheur a produzir dentro de uma moldura extremamente realista. Para que pudesse explorar ainda mais a vida animal em fazendas e mercados de gado e cavalo, a artista conseguiu uma autorização da prefeitura de Paris para usar calças, algo inédito entre as mulheres francesas da época! Esse “passe livre” precisava ser renovado de 6 em 6 meses, e se tornou uma espécie de lenda sobre Bonheur.

  1. Recorte da obra de Anna Klumpke: Portrait of Rosa Bonheur (1898) – Metropolitan Museum of Art, Nova York
  2. “As far as males go, I only like the bulls I paint”, Rosa Bonheur
  3. Labourage nivernais (1849) – Museu D’Orsay
  4. The Horse Fair (1852–1855) – Metropolitan Museum of Arte, Nova York
  5. Shorn Ewe (Brebis Tondue) (1842 – 1891) – Metropolitan Museum of Art, Nova York

Adélaide Labille-Guiard

1743-1803

Paris, França

Para começar a contar a história de Adélaide Labille-Guiard é importante destacar que a pintora foi também uma experiente professora de artistas mulheres e presença essencial nos debates referentes às reformas das políticas da Academia Real de Pintura e Escultura de Paris em relação às presença de alunas. Foi muito influente na academia, conhecida pela devoção às artistas. Labille-Guiard foi admitida à Academia Real ao expor no salão de 1783, junto com sua contemporânea mais conhecida, Élisabeth Vigée-Lebrun. A presença não de uma, mas duas mulheres, gerou bastante ruído no evento e foi uma fácil desculpa para a criação de rumores de rixas e disputas por seus pares masculinos. Labille-Guiard dedicava-se a pintar retratos de aristocratas, mas também dá início a uma produção dedicada a registrar burguesia. Em 1790 advogou diante dos membros da Academia defendendo o fim do limite de vagas para mulheres – o absurdo teto de 4. Quando se instaurou em Paris o “Período do Terror”, entre 1793 e 1794, ao longo da Revolução Francesa, Adélaide Labille-Guiard se isolou na área rural da França, retornando apenas para Paris em 1795, onde continuou pintando até sua morte, em 1803.

  1. Recorte da obra Auto-retrato com dois alunos, obra completa ao final do álbum.
  2. “One must expect to have one’s talent ripped apart (…) who can plead on behalf of women’s morals?”, escreveu ela em uma rara carta existente.
  3. Marie-Adélaïde de France, said Madame Adélaïde (1787) – Palace of Versailles, France
  4. Portrait of a woman by Adélaïde Labille-Guiard (1787) – Musée des Beaux-Arts de Quimper, Brittany, France
  5. Auto-retrato com dois alunos, Mlle. Marie Gabrielle Capet [à direita] e Mlle. Marie Marguerite Carreaux de Rosemond (1785) – Metropolitan Museum of Art, NY

Abigail de Andrade

1864-1890

Vassouras, Rio de Janeiro

Abigail de Andrade foi a mais significativa pintora do século XIX no Brasil, tanto por seu talento plástico, quanto pela consistência de suas obras, e também pelo (merecido) reconhecimento crítico que chegou a receber em vida. Sua trajetória foi bastante transgressora. Nascida em Vassouras, uma rica região cafeicultora no RJ, Abigail deixou sua cidade para ir aprimorar seus estudos na capital. Em 1881, se matricula no Liceu de Artes e Ofícios – neste mesmo ano a escola havia criado um curso que aceitaria, finalmente, artistas mulheres como alunas. Em 1884, participou da XXVI Exposição Geral de Belas Artes com 14 obras, recebendo a cobiçada medalha de ouro pela pintura Cesto de Compras. Já vivendo em Paris com Angelo Agostini e a filha do casal, Angelina, pinta uma de suas mais celebradas obras, “Interior de Ateliê”, na qual retrata-se a si mesma posando para o marido. Ainda no início de uma carreira já brilhante, em 1890, Abigail de Andrade deu a luz a um filho que logo morreu de tuberculose, ao que se seguiu sua própria morte, meses depois.

  1. Mulher sentada diante de uma escrivaninha (1889) – Coleção particular
  2. Estrada do Mundo Novo com Pão de Açúcar ao Fundo (1888) – Coleção Hecilda e Sergio Fadel, Rio de Janeiro, Brasil
  3. Interior de Ateliê (1889) – Coleção Hecilda e Sergio Fadel, Rio de Janeiro, Brasil
  4. Cesto de Compras (1884) – Coleção particular, Rio de Janeiro, Brasil

Madame Lebrun

Provavelmente a mais famosa pintora do século XVIII, Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun, ou Madame Lebrun, foi uma artista francesa ligada à estética ao Rococó e Neoclássica. Desde a adolescência, já pintava retratos de maneira profissional e ganhava dinheiro com isso. Em 1774 entrou na Associação de Pintores da Académie de Saint-Luc, alternativa à rejeição pela Académie Royale de Peinture et de Sculpture. Poucas mulheres podiam frequentar as Academias de Arte, e eram sempre proibidas de frequentar as aulas de modelo vivo. Em meados de 1778 recebeu a encomenda de um retrato de Maria Antonieta, tornando-se uma das artistas preferidas da corte. A partir daí, nos anos seguintes, realizou mais de 30 retratos da rainha e sua família, e ampliou muito sua gama de clientes. Em 1783 foi finalmente aceita na Académie Royale, junto com Adélaïde Labille-Guiard. Uma pequena rixa teve início entre as duas, com comparações de críticos entre seus trabalhos e personalidades. Com a instabilidade política que da Revolução que se aproximava, ficou 12 anos em exílio, trabalhando na Itália, Áustria, Rússia e Alemanha. Quase nenhuma artista feminina desde então desfrutou do tipo de sucesso e admiração que recebera Lebrun.

  1. Auto-retrato, pintado em Florença (1790) – Galeria Uffizi, Florença, Itália @uffizigalleries
  2. “Ici, enfin, je repose…” escrito em seu túmulo no cemitério de Louveciennes, próximo de Versalhes.
  3. Rainha Maria Antonieta e seus três filhos (1787)
  4. Auto-retrato com sua filha Jeanne-Lucie (1786) – Museu do Louvre @museelouvre
  5. A Marquesa de Pezay e a Marquesa de Rougé com os seus dois filhos (1787) – National Gallery of Art, Washington D.C., EUA @nationalgallery