Georgiana Houghton

1814-1884

Las Palmas, Espanha

Georgiana Houghton foi uma artista à frente de seu tempo: pioneira na abstração, inovadora nas incorporação da espiritualidade na arte e vanguardista na divulgação de seu próprio trabalho. Criada em uma religião cristã, começou a pintar depois do falecimento de sua irmã Zilla, que havia sido artista, quando passou a frequentar sessões mediúnicas e a criar seus desenhos “espirituais” marcados por linhas e espirais sinuosas, redemoinhos de cores vibrantes em uma complexa malha de tons e cores específicas. É possível “traduzir” os significados dos elementos usados pela artista porque ela descrevia no verso de seus trabalhos, sob a forma de escrita automática, os sentidos dos pontos, redemoinhos e cores que usava. A decodificação desses elementos, inclusive, está disponível no site georgianahoughton.com/symbolism. A artista recebeu críticas controversas sobre seu trabalho, que era guiado pela mão de seus “amigos invisíveis”, como ela mesma costumava dizer. Entretanto, Georgiana Houghton foi persistente e determinada em apresentar aos outros seu talento, tendo organizado uma exposição individual de maneira independente. Alugou uma galeria renomada e exibiu 155 desenhos em aquarela e lápis, um fracasso comercial que quase a levou à falência. No entanto, Georgiana teve um papel importante na divulgação do espiritismo, sendo reconhecida em seu círculo de amigos e colegas espíritas como pioneira na arte espiritual.

  1. Retrato de Georgina Houghton
  2. “I discovered forms, and designs, and distances, that had been utterly undreamed of, and I realised yet more fully the Love that had bestowed such a gift upon me.”, Georgina Houghton
  3. The Portrait of the Lord Jesus Christ (1862) – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  4. Spiritual Crown of Mrs A A Watts (1867) – Coleção particular
  5. ‘Some holy fire’… The Eye of God (1862) – inscrição no verso credita o trabalho ao nome Correggio como um guia espiritual – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  6. Verso do quadro The Eye of the Lord

Emma Kunz

1892-1963

Brittnau, Suíça

Emma Kunz foi conhecida em vida como curandeira telepática – seus desenhos geométricos em estilo de mandala, criados com ajuda de pêndulos, eram utilizados em rituais de cura. Artista autodidata, Emma Kunz se descrevia como pesquisadora e buscava explorar formas abstratas. Os desenhos que realizava eram usados em atendimentos espirituais, posicionados entre ela e seus pacientes. Suas obras não foram datadas nem ganharam título, mas eram carregadas de significado: cada cor e cada forma tinha um sentido exato em sua compreensão do mundo. A gruta onde Emma Kunz praticava seus rituais de cura, AION A (aion significa “sem limite” em grego), tem suas pedras vendidas nas farmácias por toda Suíça em embalagens estampadas com seus desenhos. A artista deixou um legado de mais de 400 trabalhos, hoje preservado e divulgado pelo Emma Kunz Zentrum, em Würenlos.

  1. Retrato de Emma Kunz
  2. “Shape and form expressed as measurement, rhythm, symbol and transformation of figure and principle”, Emma Kunz ao descrever seu trabalho
  3. Trabalho nº 003
  4. Trabalho nº 396
  5. Trabalho nº 012

Agnes Pelton

1881-1961

Stuttgart, Alemanha

Agnes Lawrence Pelton teve pouco reconhecimento em vida. Um olhar mais atento à sua obra, no entanto, foi apresentando no Whitney Museum neste ano de 2020 com a grande exposição “Agnes Pelton: Desert Transcendentalist” – uma pesquisa profunda que finalmente trouxe à luz mais uma das muitas artistas apagadas da História da Arte. Depois de uma fase figurativa e decorativa, Pelton passou a incorporar em suas obras formas mais misteriosas, adotando a abstração em 1926. Seus trabalhos passaram a oscilar entre linhas e horizontes, formas circulares e cônicas brilhantes, vários tipos de estrelas e outros elementos celestes. Lendo Blavatsky e se aproximando da Teosofia, Antroposofia e Agni Yoga, retratava uma realidade espiritual, especialmente depois de mudar-se para o deserto na Califórnia em 1932. Outros trabalhos da pintora são manifestações de suas experiências em momentos de quietude meditativa ou nos sonhos, descrevendo a realidade que existia por trás das aparências físicas – um mundo de energias do bem, sem corpo. As obras de Agnes Peltron chegavam para ela completas, como mostram seus cadernos de esboços.

  1. Retrato de Agnes Pelton – foto de Alice Boughton
  2. “Abstract beauty of the inner vision, which would be kindled by the inspiration of these rare and solitary places” Pelton ao descrecer o deserto da Califórnia em 1932
  3. Ahmi in Egypt (1931) – Whitney Museum of American Art
  4. Orbits (1934) – Oakland Museum of California
  5. Messengers (1932) – Phoenix Art Museum
  6. Day (1935) – Phoenix Art Museum

Hilma af Klint

1862-1944

Solna, Suécia

Sua longa e extensa produção passou praticamente despercebida por boa parte do séc. XX, mesmo sendo Hilma af Klint a grande pioneira da abstração na arte. A artista sueca produziu suas primeiras obras abstratas muito antes de Kandinsky. Também foi pioneira na associação entre espiritualidade e arte ao aproximar-se da Teosofia e de outros movimentos espirituais como Rosa-cruz e, mais tarde, Antroposofia. Em 1906, ano de início de sua principal série (Paintings for the temple, ou Pinturas para o tempo), Klint associou-se a outras artistas mulheres que compartilhavam dos mesmos interesses e juntavam-se para realizar sessões espíritas, grupo que ficou conhecido como “As cinco”. Para realizar o conjunto principal de sua obra, que contém quase 200 trabalhos, Klint contava receber instruções de entidades do plano astral, e as obras desse período – que dura até 1915 – são marcadas por um simbolismo de formas e cores. Em seu testamento a artista determinou que essas pinturas só deveriam ser revelados ao público 20 anos após sua morte (1944). Mas, foi apenas em 1986 que elas integraram a mostra “The Spiritual in Art: Abstract Paintings 1890–1985”, no Los Angeles County Museum of Art, Lacma. No entanto, o grande público só passou mesmo a conhecer e reconhecer Hilma af Klint depois da retrospectiva organizada pelo Moderna Museet de Estocolmo em 2013. A obra de Klint passou pelo Brasil, na Pinacoteca em 2018, fazendo muito sucesso no país e revelando uma nova versão da história da arte.

  1. Hilma em seu ateliê em Estocolmo (1895) – Cortesia da Fundação Hilma af Klint
  2. “The pictures were painted directly through me, without any preliminary drawings, and with great force. I had no idea what the paintings were supposed to depict; nevertheless I worked swiftly and surely, without changing a single brush stroke”, escrito em uma de mais de 26.000 páginas que deixou em seus cadernos
  3. The Ten Largest, No. 1, Childhood, Group IV (1907) – Moderna Museet, Estocolmo, Suécia
  4. Altarbild, nr 1, grupp X, Altarbilder (1915) – Moderna Museet Albin Dahlström
  5. What a Human Being Is (1910) – imagem do Stiftelsen Hilma af Klints Verk

Marianne von Werefkin

1860-1938

Tula, Rússia

Marianne von Werefkin criou obras extravagantes que a diferenciavam dos artistas de seu tempo, principalmente no que diz respeito a uma aplicação excêntrica da cor e distorção das figuras. Sua mãe, também pintora, a incentivou a desenvolver suas habilidades desde muito cedo e, em 1886, a artista começou a ter aulas particulares, passando 10 anos sob os ensinos de Ilja Repin, muito famosa na época. Após casar-se com Alexej Jawlensky – com quem futuramente co-fundaria o grupo “Der Blaue Reiter” junto de Gabriele Müter e Wassily Kandinsky -, ficou por quase 10 anos afastada da pintura, mas não da arte. Foi agenciadora de seu marido e se dedicou a estudos teóricos. Foi ao passar um ano em Paris e no sul da França entre 1905 e 1906 que o impulso criativo para retornar as telas a levou para um novo estilo com influências do simbolismo, inspirada por Edvard Munch e Ferdinand Hodler. MariannevonWerefkin desenvolveu uma técnica apurada e uma destreza notável, empregando efeitos de luz e pinceladas singulares capazes de imprimir muito movimento aos seus trabalhos.

  1. Self-Portrait in a Sailor’s Blouse (1893) – Museu de Arte Moderna, Ascona, Suíça
  2. “One life is far too little for all the things I feel within myself, and I invent other lives within and outside myself for them. A whirling crowd of invented beings surrounds me and prevents me from seeing reality. Color bites at my heart” Marianne von Werefkin
  3. Ave Maria (1927)
  4. Autumn (1907) – Musei comunali d’arte di Ascona
  5. The Rag-and-Bone Man (1917)- Museu de Arte Moderna, Ascona, Suíça

Paula Modersohn-Becker

1876-1907

Dresden, Alemanha

Paula Modersohn-Becker dedicou sua obra a alcançar a essência das coisas. Apesar de ter falecido muito jovem, aos 31 anos, a artista subverteu as normas de seu tempo, não apenas por ser uma artista mulher e pela técnica que utilizou em suas telas, mas principalmente pela escolha das cenas femininas que dominaram parte de sua obra. É considerada a primeira mulher do expressionismo alemão. Estudou em Londres e Berlim, esteve na colônia de Worpswede em Paris e passou incansáveis horas em Galerias e Museus. Em uma de suas quatro viagens a Paris conheceu o trabalho de Paul Cézanne, Paul Gauguin e Vincent van Gogh. A influência desses artistas trouxe inovações para sua arte. Com suas pinturas de tintas marcadas pelos objetivos utilizados (empasto), paleta suave e terrosa, pintou paisagens, naturezas mortas e cenas cotidianas. Entretanto foi ao retratar as figuras femininas que a Paula Modersohn-Becker conseguiu se encontrar na arte: mães e filhos, meninas e senhoras idosas. As mulheres que compõe o seu trabalho são reais, robustas e com olhares profundos e sutis. Sua maneira sensível de interpretar a feminilidade impactou padrões tradicionais de sua época, retratou-se grávida e pintou mães amamentando. Um pioneirismo para a época! Dos breves 14 anos em que produziu, a artista deixou mais de 750 quadros, 13 estampas e quase mil desenhos.

  1. Fotografia de Paula Modersohn-Becker
  2. “It is my experience that marriage doesn’t make one happier. It takes away the illusion that previously sustained one’s whole being that one would have a soul mate”, Paula Modersohn-Becker
  3. Self-Portrait on the sixth wedding anniversary (1906) – Paula Modersohn-Becker Museum, Bremen
  4. Mother Nursing Child (s.d)
  5. Peasant Woman (1905) – Detroit Institute of Arts, USA

Anita Malfatti

1889-1964

São Paulo, Brasil

Anita Malfatti é, provavelmente, a artista mais conhecida entre as brasileiras que abordamos no curso e, até aqui, no “Elas Estão Aqui na Arte”. Anita Malfatti foi desenhista, gravadora, ilustradora e professora. Se dedicou intensamente à arte, tendo estudado na Alemanha e nos Estados Unidos. Sua obra e suas conquistas estéticas merecem ser enaltecidas sem restrição: as cores fortes, pinceladas firmes e marcadas e um descompromisso com o mimetismo estético são elementos cruciais em sua produção. É possível atribuir a ela a gênese de parte do movimento modernista no país, já que a artista foi responsável por causar furor e revolta na cena artística paulista em 1917 com uma exposição de seus trabalhos recentes, seguida de críticas muito duras e implacáveis – incluindo o texto “Paranoia ou Mistificação?”, de Monteiro Lobato, publicado em um jornal da época. A polêmica em torno de Malfatti e suas pinturas foi fundamental para a articulação dos artistas que viriam, mais tarde, a realizar a Semana de Arte Moderna, em 1922.

  1. Fotografia de Anita Malfatti em seu ateliê
  2. “E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura”, Anitta Malfatti ao descrever sua experiência de quase morte ao tentar um suicídio na estação de trem Barra Funda, em São Paulo
  3. O Homem de Sete Cores (1916) – Museu de Arte Brasileira, FAAP, São Paulo, SP
  4. A ventania (1917) – Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, Brasil
  5. As duas Igrejas (Itanhaém) (1940) – Coleção Particular, São Paulo, Brasil
  6. Samba (1945) – Coleção Gabriel de Castro Oliveira, São Paulo, Brasil

Gabriele Münter

1877-1962

Berlim, Alemanha

A artista expressionista alemã por muito tempo teve seu nome ligado a Wassily Kandinsky, de quem foi aluna, companheira e colega de trabalho. Entretanto, a vida e obra de Gabriele Münter são muito mais do que a relação com o mestre russo. Suas obras trazem cores forte, imagens delineadas em tons escuros espessos e figuras simplificadas de maneira criativa. Seu estilo teve influência pós-impressionista e fauvista. Apesar de frequentemente inominada, Gabriele Münter foi uma das fundadoras do importante núcleo dos artistas “Der Blaue Reiter”, central na formação do Expressionismo Alemão. Durante sua vida, esteve próxima da vanguarda das artes e foi graças a ela que cerca de 80 obras de Kandinsky e outros membros do Blaue Reiter não foram completamente destruídas na Segunda Guerra Mundial.

  1. Foto de Gabriele Münter em Kallmünz (1903)
  2. “Only permanence in appearance fascinated me in a person – the form in which the essence was expressed”, Gabriele Münter
  3. Portrait of a Young Woman (1909) – Milwaukee Art Museum
  4. Meditation (1917) – Stadtische Galerie im Lenbachhaus, Munich
  5. Snow-Covered Pine (1933) – Solomon R. Guggenheim Museum, New York

Käthe Kollowitz

1867-1945

Königsberg, Prússia (Rússia)

Uma mulher forte, de produção potente que refletiu a condição humana da virada do século, Käthe Kollowitz foi tardiamente reconhecida por seu papel no desenvolvimento do expressionismo abstrato. Profundamente impressionada pelo romance “O Germinal”, de Émile Zola, e pela peça “Die Weber”, de Gerhart Hauptmann, começou a realizar séries de gravuras focando em temas sociais e políticos como desigualdade, miséria e morte. Seu trabalho mais conhecido, talvez, seja a série de gravuras realizadas sobre a I Guerra Mundial, na qual empregou a técnica da xilogravura no lugar da técnica que ela já dominava de gravura em metal.

Käthe Kollowitz expôs as mulheres, a classe trabalhadora, a fome e pobreza e a guerra com uma força singular com densas redes de linhas e contrastes de tons claros e escuro. Teve iniciação em pintura, porém posteriormente mergulhou nas artes gráficas, explorando a gravura, escultura, litografia e xilogravuras, encantada pelo poder de distribuição e acessibilidade desses formatos. Seu trabalho tem características únicas e traz à tona temas que são atuais até os dias de hoje.

  1. Retrato de Käthe Kollwitz – autor desconhecido
  2. “For work, one must be hard and thrust outside one-self what one has lived through”, frase escrita em seu diário.
  3. Self-Portrait with Hand on Forehead (1910) – National Gallery of Art, Washington, D.C
  4. The March of the Weavers (Weberzug) (1897) – Stadtmuseum, Munich, Alemanha
  5. Hunger (1923)
  6. In need (1897) – Der Kunstverein in Bremen, Kupferstichkabinett

Suzanne Valadon

1865-1938

Paris, França

Suzanne Valadon foi, sem dúvidas, uma mulher que hoje descreveríamos como “livre”. Provocou verdadeiros rebuliços em seu tempo! Foi modelo e artista autodidata, tendo posado para Renoir, Degas e Toulouse-Lautrec e pintado diversas mulheres nuas, algo bastante transgressor para a virada do século. A função de modelo servia não apenas para sustentar-se, mas como modo de aprender com os grandes artistas para quem posava. Sua obra muitas vezes é ofuscada por sua biografia. Suzanne Valadon foi um ícone do pós-impressionismo não apenas por seu belíssimo trabalho, mas pelos relacionamentos conturbados, incontáveis amantes (incluindo Erik Satie) e vida boêmia que levava. Apesar disso e da falta de treinamento formal, Valadon foi a única mulher a expor na Société Nationale em 1894. Em 1911 realizou sua primeira mostra individual e expôs no Salon des Independants e no Salon D’Automne, ganhando crescente reconhecimento do circuito. Sua obra reflete sua personalidade forte e marcante, com pinceladas firmes e cores vibrantes, e revela sua perspectiva única sobre o corpo feminino e a sensualidade, algo absolutamente diferente das abordagens dos artistas de sua época.

  1. Autorretrato (1898) Museum of Fine Arts, Houston
  2. O Circo (1889) – Cleveland Museu de Arte, Ohio
  3. Lançamento de Redes (1914) – Centro Pompidou
  4. Nus (1919) – MASP
  5. O Quarto Azul, óleo sobre tela (1923) – Centre Pompidou