Carmen Herrera

1915-

Havana, Cuba

Carmen Herrera é considerada a artista contemporânea de mais idade a ainda produzir ativamente. Atualmente, carrega 105 anos de história – dos quais, mais de 70 foram passados no anonimato, apenas alcançando o reconhecimento devido nos anos 2000. Hoje, além de retrospectivas em aclamados museus e galerias, também é protagonista de um famoso documentário distribuído em diversas plataformas de streaming. Estudou arquitetura por cerca de um ano na Universidad de La Habana e, depois de se casar com Jesse Loewenthal, mudou-se para Nova York, onde ganhou uma bolsa de estudos para a Art Students League – por onde passaram grandes nomes da arte estadunidense. A pintora viveu também alguns anos em Paris. Foi uma das pioneiras da arte concreta, apesar de não ter sido incluída em exposições no auge do movimento, e produziu alguns trabalhos alinhados ao movimento intitulado “Color Field Painting”. Aprimorou suas geometrias minimalistas e simples com o passar do tempo, sempre encantada pelos ângulos retos que a arquitetura lhe proporcionou. Suas obras são milimetricamente calculadas, com as cores sendo escolhidas de maneira experimental. Suas linhas rigorosas e nítidas, seus planos cromáticos contrastantes e suas composições equilibradas trazem a essência da simplicidade. Os trabalhos de listras e repetições que são tão típicos de Carmen Herrera anteciparam em anos a Opt-Art, mesmo que seu talento só tenha sido valorizado mais recentemente.

  1. Carmen Herrera em seu estúdio – Foto: Jason Schmidt
  2. “I like straight lines. I like angles. I like order. In this chaos that we live in, I like to put some order”, Carmen Herrera
  3. Tondo3Colors (1958)
  4. Untitled (1952) – Whitney Museum of American Art
  5. Blanco y Verde (1959) – Whitney Museum of American Art
  6. ‘Iberic’ (1949) – Lisson Gallery

Luchita Hurtado

1920-2020

Caracas, Venezuela

Luchita Hurtado participou pela primeira vez em uma grande exposição de Arte Contemporânea aos 97 anos de idade, na Bienal “Made in L.A.”, 2018. Perdemos essa grande artista meses antes de seu aniversário de 100 anos, no último dia 13/08/2020. O reconhecimento demorou a chegar, uma história que se repete com muitas outras mulheres artistas que levavam suas carreiras em paralelo com a vida familiar e doméstica. Sua produção se dava no pouco tempo livre que tinha, longe do ateliê, ocupando espaços vagos pela casa. Ainda assim, conviveu e viveu nos mais influentes círculos artísticos, teve uma vida agitada e boêmia. Ao longo da vida, saiu da Venezuela para Nova York, onde estudou arte na Escola Washington Irving. Viveu por anos no México, depois em Los Angeles e faleceu em Santa Monica, cidade que abraçou como lar. Seu corpo de trabalho foi fiel à experimentação – de estilos, formas, materiais, mídias -, experimentou o modernismo, as padronagens de influência indígena e o surrealismo ao longo de 8 décadas. Foi uma colorista impecável, profundamente influenciada pelos lugares onde passou, viveu, dos estilos e continentes – todos unidos por sua profunda conexão com o planeta Terra e a natureza. Sua série mais aclamada apresenta imagens onde figuram partes de corpos femininos vistas de um ângulo superior (como se estivessem visualizando a si mesmas), padrões geométricos e elementos simbólicos: peras e maçãs referem-se a sexo e sexualidade, fios e cestas denominam o doméstico e brinquedos representam crianças e família. Apesar dessas características tão interessantes, Luchita Hurtado só viu suas obras ganharem as paredes de museus e serem estudadas por acadêmicos aos 90 anos de idade. A maior exposição de sua vida aconteceu este ano, no LACMA . Intitulada “Luchita Hurtado: I Live I Die I Will Be Reborn”, a mostra permanece montada, aguardando o retorno das atividades após o término da pandemia de covid-19 que assola todo o mundo.

1. Retrato de Luchita
2. “I don’t feel anger, I really don’t. I feel, you know: ‘How stupid of them.’ Maybe the people who were looking at what I was doing had no eye for the future and, therefore, no eye for the present”, em entrevista sobre seu reconhecimento tardio.
3. Untitled (1969) – Hammer Museum 
4. Self Portrait (1971) – Hauser & Wirth and Beth Rudin DeWoody
5. Untitled, (1949) – Private collection
6. The Umbilical Cord of the Earth is the Moon (1977) – Hauser & Wirth 
7. Untitled (1951) – LACMA, Los Angeles County Museum of Art 

Anni Albers

1899-1994

Berlim, Alemanha

A obra de Anni Albers explora principalmente a abstração geométrica em suportes têxteis – desde requintadas “tecelagens pictóricas” em pequena escala a grandes tapeçarias e tecidos projetados para produção em massa. Albers também foi gravurista, desenhista e escritora. Nascida em uma família de posição econômica confortável, sempre soube que queria ser artista e se rebelou indo estudar artes por conta própria. Aluna talentosa da vanguardista escola Bauhaus, sua intenção inicial era estudar pintura. Mas, como a maioria das mulheres de sua época, encontrou mais liberdade artística na Oficina de Tecelagem, na qual futuramente lecionou e depois chefiou. Seu trabalho revolucionou o design têxtil em todo o mundo, provocando grandes transformações na maneira em que vemos o tecido dentro de uma lógica artística – a arte têxtil sempre foi relegada à categoria de ofício menor, artesania. Anni Albers se interessava muito pelos métodos antigos de tecelagem, como o tear, o que não a impediu de agregar novas tecnologias em sua produção. Usou exaustivamente linhas e fios de cores vibrantes, misturou materiais tradicionais e industriais – juta, papel, crina de cavalo e celofane – e trabalhou de maneira totalmente inovadora para os padrões da época. Tinha como objetivo valorizar os trabalhos manuais e estimular a sensibilidade do espectador, provocando o desejo tátil com as obras. Viajou muito pelo mundo e estudou as manufaturas de tecido das sociedades tradicionais da América Latina, em especial do Peru e México. Foi a primeira designer a ter uma exposição solo no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1949.

  1. Anni Albers in her weaving studio at Black Mountain College (1937) – The Josef and Anni Albers Foundation
  2. “The conscientious designer does not himself design at all but rather give the object-to-be a chance to design itself”, Anni Albers (1965)
  3. South of the Border (1958)
  4. Red and Blue Layers (1954) – Guggenheim Museum Bilbao
  5. Thickly Settled (1957) – Yale University Art Gallery, New Haven
  6. Serigrafia TR III (1969-70) – Tate

Georgiana Houghton

1814-1884

Las Palmas, Espanha

Georgiana Houghton foi uma artista à frente de seu tempo: pioneira na abstração, inovadora nas incorporação da espiritualidade na arte e vanguardista na divulgação de seu próprio trabalho. Criada em uma religião cristã, começou a pintar depois do falecimento de sua irmã Zilla, que havia sido artista, quando passou a frequentar sessões mediúnicas e a criar seus desenhos “espirituais” marcados por linhas e espirais sinuosas, redemoinhos de cores vibrantes em uma complexa malha de tons e cores específicas. É possível “traduzir” os significados dos elementos usados pela artista porque ela descrevia no verso de seus trabalhos, sob a forma de escrita automática, os sentidos dos pontos, redemoinhos e cores que usava. A decodificação desses elementos, inclusive, está disponível no site georgianahoughton.com/symbolism. A artista recebeu críticas controversas sobre seu trabalho, que era guiado pela mão de seus “amigos invisíveis”, como ela mesma costumava dizer. Entretanto, Georgiana Houghton foi persistente e determinada em apresentar aos outros seu talento, tendo organizado uma exposição individual de maneira independente. Alugou uma galeria renomada e exibiu 155 desenhos em aquarela e lápis, um fracasso comercial que quase a levou à falência. No entanto, Georgiana teve um papel importante na divulgação do espiritismo, sendo reconhecida em seu círculo de amigos e colegas espíritas como pioneira na arte espiritual.

  1. Retrato de Georgina Houghton
  2. “I discovered forms, and designs, and distances, that had been utterly undreamed of, and I realised yet more fully the Love that had bestowed such a gift upon me.”, Georgina Houghton
  3. The Portrait of the Lord Jesus Christ (1862) – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  4. Spiritual Crown of Mrs A A Watts (1867) – Coleção particular
  5. ‘Some holy fire’… The Eye of God (1862) – inscrição no verso credita o trabalho ao nome Correggio como um guia espiritual – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  6. Verso do quadro The Eye of the Lord

Emma Kunz

1892-1963

Brittnau, Suíça

Emma Kunz foi conhecida em vida como curandeira telepática – seus desenhos geométricos em estilo de mandala, criados com ajuda de pêndulos, eram utilizados em rituais de cura. Artista autodidata, Emma Kunz se descrevia como pesquisadora e buscava explorar formas abstratas. Os desenhos que realizava eram usados em atendimentos espirituais, posicionados entre ela e seus pacientes. Suas obras não foram datadas nem ganharam título, mas eram carregadas de significado: cada cor e cada forma tinha um sentido exato em sua compreensão do mundo. A gruta onde Emma Kunz praticava seus rituais de cura, AION A (aion significa “sem limite” em grego), tem suas pedras vendidas nas farmácias por toda Suíça em embalagens estampadas com seus desenhos. A artista deixou um legado de mais de 400 trabalhos, hoje preservado e divulgado pelo Emma Kunz Zentrum, em Würenlos.

  1. Retrato de Emma Kunz
  2. “Shape and form expressed as measurement, rhythm, symbol and transformation of figure and principle”, Emma Kunz ao descrever seu trabalho
  3. Trabalho nº 003
  4. Trabalho nº 396
  5. Trabalho nº 012

Agnes Pelton

1881-1961

Stuttgart, Alemanha

Agnes Lawrence Pelton teve pouco reconhecimento em vida. Um olhar mais atento à sua obra, no entanto, foi apresentando no Whitney Museum neste ano de 2020 com a grande exposição “Agnes Pelton: Desert Transcendentalist” – uma pesquisa profunda que finalmente trouxe à luz mais uma das muitas artistas apagadas da História da Arte. Depois de uma fase figurativa e decorativa, Pelton passou a incorporar em suas obras formas mais misteriosas, adotando a abstração em 1926. Seus trabalhos passaram a oscilar entre linhas e horizontes, formas circulares e cônicas brilhantes, vários tipos de estrelas e outros elementos celestes. Lendo Blavatsky e se aproximando da Teosofia, Antroposofia e Agni Yoga, retratava uma realidade espiritual, especialmente depois de mudar-se para o deserto na Califórnia em 1932. Outros trabalhos da pintora são manifestações de suas experiências em momentos de quietude meditativa ou nos sonhos, descrevendo a realidade que existia por trás das aparências físicas – um mundo de energias do bem, sem corpo. As obras de Agnes Peltron chegavam para ela completas, como mostram seus cadernos de esboços.

  1. Retrato de Agnes Pelton – foto de Alice Boughton
  2. “Abstract beauty of the inner vision, which would be kindled by the inspiration of these rare and solitary places” Pelton ao descrecer o deserto da Califórnia em 1932
  3. Ahmi in Egypt (1931) – Whitney Museum of American Art
  4. Orbits (1934) – Oakland Museum of California
  5. Messengers (1932) – Phoenix Art Museum
  6. Day (1935) – Phoenix Art Museum