Berenice Abbott

1898-1991

Springfield, Ohio, EUA

Berenice Abbott foi uma das mais importantes fotógrafas documentais da história, com séries icônicas de imagens da Grande Depressão americana. Estudou brevemente na Ohio State University, mas sua evolução técnica aconteceu de forma autodidata, aprimorando-se em escultura e desenho por quase 5 anos. Durante sua trajetória morou entre Nova York e Paris, com passagens por Berlim, o que a deixou circulando entre figuras importantes da vanguarda artística do século XIX. Conheceu e se apaixonou pela fotografia como expressão artística em Paris, quando foi assistente no Man Ray Studio. Nesse período, teve contato com a obra de Eugène Atget, um revolucionário da fotografia documental que desviou seu olhar das figuras humanas e trouxe paisagens vazias e a catalogação de objetos no seu corpo de trabalho. Berenice Abbott foi colecionadora do trabalho de Eugène Atget, comprando seus negativos e preservando seu legado após sua morte. Sua coleção, posteriormente foi comprada pelo MoMA. Desde o início do trabalho de Abbott, seu grande interesse residia em retratar a vanguarda parisiense, guiada por processos de compreensão das transformações emocionais e ambientais da sociedade. Em um de seus retornos a NY, impressionada com a modificação da paisagem da cidade, aplicou seu olhar preciso e único à fotografia documental, resultando em uma longa produção que retrata a arquitetura, cultura e a vida cotidiana da metrópole. A artista teve diversas exposições em vida, lecionou por mais de 20 anos na New School for Social Research, além de ter escrito diversos livros sobre fotografia.

  1. Retrato de Berenice Abbott
  2. “Half of the fun of photography is fooling around, mixing solutions, playing with papers, exercising tangible authority over silent partners of photographic – film, paper, chemicals.”, Berenice Abbott
  3. Modern Vision (1938) – The New York Public Library
  4. Photograph of Radio Row (1936) – The New York Public Library
  5. Pike and Henry Street (1936) – The New York Public Library
  6. The O Line, Pier 11, East River (1930)

Lee Miller

1907-1977

Nova York, EUA

A vida de Lee Miller daria não só um, mas vários filmes. Na infância, foi vítima de estupro por um amigo de sua família, que lhe infectou com uma doença venérea grave que demorou um longo período para ser tratada. Ainda criança, modelava nua para o seu pai, algo que continuou fazendo até a vida adulta. Um acompanhamento psicológico a fez encarar a vida interior/emocional e a vida sexual como entidades separadas. Entretanto, os traumas dessas objetificações a seguiram por toda a vida. Em 1927, enquanto estudava arte em Nova York, foi salva de ser atropelada por ninguém menos que Condé Nast, famoso editor americano. Ele ficou encantado por sua beleza e pouco tempo depois Miller estava modelando para a capa da revista Vogue. Mas a vida glamurosa de modelo não a interessava tanto quanto a fotografia. Em 1929, por um impulso ousado, foi a Paris e conheceu Man Ray – famoso surrealista –, de quem foi musa e amante. Muitos de seus trabalhos, aliás, foram erroneamente creditados a ele. Juntos inventaram a técnica fotográfica da solarização, aperfeiçoando um erro acidental de Lee Miller que deixou uma imagem exposta por tempo demais. Nos anos 30, de volta a NYC, montou um estúdio, angariando clientes famosos e empresas. Miller ainda viveu no Cairo, viajou pela Europa e acabou em Londres no início da Segunda Guerra Mundial. Recusou retornar aos EUA e tornou-se, então, fotógrafa correspondente para a Vogue. Ainda conseguiu credenciar-se ao exército americano e passou a fotografar a linha de frente da guerra, produzindo algumas das mais icônicas imagens do conflito. Também registrou a abertura dos campos de concentração e foi fotografada posando dentro da banheira de Hitler. Os traumas da infância e os horrores da guerra tornaram os anos da década de 40 marcados pela depressão e desesperança. Mas Miller tinha uma pulsão de vida maior. Foi deixando a fotografia de lado em favor da culinária, incorporando ensinamentos surrealistas ao ofício de chef. O filho de Miller, Antony Penrose, descobriu 60.000 negativos e mais de 20.000 impressões após sua morte, por câncer, em 1977, escondidas no sótão da família.

Para saber mais sobre o trabalho de Lee Miller, acesse o site da artista, clicando AQUI.

Fanny Paul Volk

1867-1948

Leipa, Alemanha

Fanny Paul Volk veio para o Brasil depois que sua mãe, a fotógrafa Anna Paul, emigrou da Alemanha para o Brasil no final do século XIX. Anna conheceu o também fotógrafo Adolpho Volk na viagem e ambos estabeleceram-se em Curitiba. Juntos, abriram o estúdio Photographia H. A. Volk, trabalhando em conjunto. Fanny chegou no ano seguinte, imediatamente envolvendo-se no ofício da mãe e casando-se com Adolpho em 1886. O estúdio fez muito sucesso, atendendo a elite curitibana ao registrar os casamentos, retratar os políticos e a elite, sempre seguindo um certo estilo europeu. Fanny, no entanto, ficou sozinha em 1904 – sua mãe já havia falecido e Adolpho decidiu deixar a mulher e a filha e retornar à Alemanha, para nunca mais voltar. A artista passou, então, a gerenciar sozinha o negócio, postura ousada em uma época na qual mulheres não trabalhavam, muito menos tocavam negócios de maneira independente – ainda mais uma mulher separada. Mas a fama do estúdio e o reconhecimento profissional de Fanny acabaram tornando-a uma exceção. Seu trabalho foi tão bem aceito que ela acabou, inclusive, expandindo sua atuação fotográfica para “invadir” também domínios masculinos ao ser incumbida de fotografar fachadas, fábricas e até obras públicas pela cidade. É de Fanny Volk as fotografias de uma fábrica de sapato em Curitiba, nas quais ela traz uma importante reflexão de gênero para a época. A artista retratou o mesmo local com duas situações distintas: na primeira as mulheres da fábrica estavam posicionadas à frente da fotografia e, na segunda, os homens estavam posicionados na parte frontal da imagem.

  1. Retrato de Fanny Volk
  2. Fábrica de Calçados Hatschbach (1904) – Arquivo: Casa da Memória
  3. Interior da Fábrica de Calçados da Família Hatschbach (1904) – Arquivo: Casa da Memória
  4. Empresa de Saneamento em Curitiba (1906) – Arquivo: Casa da Memória
  5. Estrada de Ferro (1914) – Arquivo: Casa da Memória

Dorothea Lange

1895-1965

Nova Jersey, EUA

Dorothea Lange nunca viu seu trabalho como arte. O que ela buscava era realizar mudanças sociais. Se formou na Universidade de Columbia, em Nova York, onde começou a mergulhar a fundo na fotografia. Iniciou sua carreira produzindo retratos em estúdio, entretanto, pela sua enorme habilidade em registrar as circunstâncias urgentes ao seu redor foi rapidamente reconhecida e contratada para produzir nas ruas. Eternizou em imagens a Grande Depressão nos Estados Unidos no período entre guerras. Em um projeto encomendado por uma agência do governo americano, viajou pela Califórnia, documentando famílias rurais deslocadas e trabalhadores imigrantes devastados pela crise econômica do país. Suas fotografias conseguiram direcionar ajuda humanitária para regiões que não estavam sendo atendidas. DorotheaLange valorizava a composição “imagem + palavra” e coletava notas de campo, letras de canções populares e pedaços de notícias. Mesmo em suas produções mais desafiadoras, como quando fotografou nipo-americanos nas escolas antes de serem encaminhados para campos de internamento, conseguiu trazer um foco empático, direcionando suas imagens para o patriotismo. Seu trabalho contribuiu para fortalecer a fotografia documental e social em todo o mundo. Trabalhou incansavelmente, desde a década de 1910 até sua morte em 1965. Hoje, sua obra representa a fotografia com crítica social e capacidade de direcionar a atenção do expectador para o que realmente importa na composição das imagens.

  1. Dorothea Lange sentada em um Ford Modelo 40 na Califórnia, em seu colo está uma câmera Graflex 4×5 SerieD
  2. “Bad as it is, the world is potentially full of good photographs. But to be good, photographs have to be full of the world”, Dorothea Lange
  3. Migrant Mother, Nipomo, California (1936) – The Museum of Modern Art
  4. White Angel Bread Line, San Francisco (1933) – The Museum of Modern Art
  5. Ex-Slave with a Long Memory, Alabama (1938)
  6. Pledge of Allegiance at Raphael Weill Elementary School a Few Weeks Prior to Evacuation, San Francisco (1942)

Imogen Cunningham

1883-1976

Portland, Oregon, EUA

Imogen Cunningham foi uma pioneira na fotografia nos Estados Unidos – comprou sua primeira câmera aos 18 anos, depois de muito economizar. Recebeu pelo correio um equipamento 4×5′ e estudou por correspondência. Depois de formar-se em química, estudou arte e fotografia por 1 ano na Alemanha. Ao voltar para Seattle, abriu seu primeiro estúdio em 1910, começando a receber algum reconhecimento das sociedades pictorialistas. Mas, na década de 20, sua especialidade se tornou a botânica. Depois de casar-se e ter três filhos, mudou-se com a família para São Francisco, Califórnia, onde conciliava as tarefas domésticas, a criação dos três meninos e o desenvolvimento de seu trabalho. Por falta de tempo e espaço passou a registrar as plantas de seu jardim, criando sua icônica série sobre magnólias. Na década de 30 foi chamada para colaborar com a revista Vanity Fair, fotografando celebridades sem maquiagem, retratando poetas, pintores, fotógrafos e escritores. Junto com outros fotógrafos contemporâneos fundou o Grupo f/64, que buscava na fotografia a “imagem pura”, bem diferente das obras do início de sua carreira. Imogen Cunningham tinha uma personalidade forte, era um espírito livre. Explorou novos métodos fotográficos, como a dupla exposição e a impressão de montagem. Fez da luz e dos detalhes seus maiores aliados nas composições de seus trabalhos, foi mestra no uso de toda a escala de cinza fotográfica, do preto ao branco. A artista chegou a ter muita fama em vida, especialmente pelas seus aclamados retratos, que tinham uma uma capacidade humanizadora única, e pelas inovadoras utilizações de contrastes e ângulos nas fotos de plantas e flores, misturando noções de arquitetura à botânica.

  1. Retrato de Imogen Cunningham
  2. “One must be able to gain an understanding at short notice and close range of the beauties of character, intellect, and spirit so as to be able to draw out the best qualities and make them show in the outer aspect of the sitter”
  3. Kauernder Akt (1932)
  4. Glacial Lily (1927) – The Museum of Modern Art
  5. Two Callas (1929)
  6. Self Portrait on Geary Street (1959) – The Museum of Modern Art
  7. O Poeta e Seu Alter Ego e James Broughton (1962)

Claude Cahun e Marcel Moore

1917-1990/ 1982-1972

Nantes, França

Claude Cahun (nascida Lucy Schwob) adotou o nome de gênero neutro em 1917. Falar dela sem mencionar sua companheira de vida, Marcel Moore – pseudônimo de Suzanne Malherbe -, seria impossível. Juntas, exploraram novas maneiras de representar a homossexualidade feminina, sendo precursoras do gênero neutro. Marcel colaborou com Cahun em várias obras escritas, esculturas, fotografias, fotomontagens e colagens, ainda que sua participação nos trabalhos tenha ficado sem crédito por muitos anos. Claude Cahun é conhecida principalmente por seus autorretratos, nos quais assume uma ampla gama de personagens, encenando imagens de si mesma que questionavam a ideia de gênero estático: de cabeça raspada, travestida de homem, de mulher, com a boca em formato de coração, deusa hindu, sob uma redoma de vidro. Supõe-se que, por trás desses “autorretratos”, possivelmente Marcel estaria clicando e operando o equipamento. Em 1922 a dupla organizava salões de artistas em sua casa, convivendo de maneira próxima dos grupos surrealistas e dadaístas. Cahun foi mebro ativo da resistência à Segunda Guerra Mundial. Em 1944, ambas foram presas pela Gestapo e condenadas à morte, mas felizmente o conflito acabou no ano seguinte, antes de sua execução. Mas a saúde de Cahun nunca mais foi a mesma – ela lutou contra a anorexia por toda a vida – e a artista faleceu em 1954. Moore, por sua vez, se suicidou em 1972, e está enterrada junto de Cahun. Após mais de 50 anos de anonimato, seu trabalho foi redescoberto no fim dos anos 80 e, hoje, é referência para diversos historiadores, autores e artistas com perspectivas teóricas pós-modernas, feministas e queer – sendo, inclusive, considerada uma das precursoras da arte drag.

  1. Claude Cahun e Marcel Moore Self-Portraits Reflected in a Mirror (1920) – Jersey Heritage Collections
  2. “Under this mask, another mask; I will never finish removing all these faces.”, Claude Cahun, heliogravura feita por Marcel Moore para Aveux non avenus (1930)
  3. “Beneath This Mask” Autorretrato (1928) – Coleção Jersey Heritage Trust
  4. “I am in training don’t kiss me” Autorretrato – Coleção Jersey Heritage Trust
  5. Aveux non Avenus [Confissões rejeitadas] (1930)

Dora Maar

1907-1997

Paris, França

Famoso desde a década de 1930, o trabalho radical, político e inovador de fotomontagem de Dora Maar foi referência no movimento surrealista, tendo participado de exposições com o grupo. Formada em artes decorativas, fotografia e pintura, produziu, além dos trabalhos surrealistas, abstratos e autorais, imagens comerciais para propaganda e moda, com um olhar apurado e cenas inusitadas. Como artista e como mulher, marcou presença nos movimentos socialistas de seu tempo, uma postura que poucas mulheres ousaram tomar! Seu relacionamento com Picasso, impactante tanto na obra dele como na dela – responsável pela documentação da produção de Guernica (1937) -, foi apenas uma pequena camada de sua carreira que já era consolidada e de sucesso. Conhecida por ser uma artista disciplinada, sua fotografia experimental mesclou técnicas e estilos diferentes, como gravuras e colagens. Dora Maar era envolvida no momento político de sua época e nas ruas de Londres, Paris e na Costa Brava, fotografou cegos, sem-teto, mães com bebês nos braços e crianças. Henriette Théodora Markovitch, ou Dora – como preferiu ser chamada -, produziu por toda sua vida, deixando um legado de uma vasta quantidade de obras, muitas delas apenas descobertas após sua morte.

  1. Dora Maar behind one of her works, in her studio at 6 rue de Savoie, Paris (1944) – Foto: Cecil Beaton – Musée Picasso (Paris, France)
  2. “My relations with the rest of the world for the rest of my life do not depend on the fact that I was once acquainted with Picasso” Dora Maar told the writer James Lord during a phone call in late 1953
  3. Sem título (Hand-Shell) (1934) – Tate
  4. Portrait d’Ubu (1936) – Museu Nacional de Arte Moderna, Centre Pompidou (Paris, França)
  5. Pearly King collecting money for the Empire Day (1935) – Tate
  6. 29 rue d’Astorg (1936)