Elsa von Freytag-Loringhoven

1874-1927

Świnoujście, Pôlonia

Elsa von Freytag-Loringhoven foi uma pintora, desenhista, escultora, poetisa, e membro importante do movimento dadaísta. Foi uma das precursoras do readymade – obra feita a partir da apropriação e articulação de objetos e materiais da vida diária, implicando um novo significado. Seu trabalho “Enduring Ornament” (1913), um anel de metal enferrujado, foi criado no mesmo ano que Marcel Duchamp criou “Roda de bicicleta sobre banco”. Em 1917, um urinol deitado foi submetido ao salão da American Society of Independent Artists e rejeitado por não ser considerado obra, um ato fundador para a arte contemporânea. A famosa Fonte (“Fountain”) foi atribuída a Duchamp, assinada com o pseudônimo R. Mutt. Contudo, paira sobre Elsa a suspeita – embasada em uma série de fontes e evidências -, de que teria sido ela a verdadeira autora deste trabalho tão fundamental à história da arte. Duchamp escreveu uma carta à sua irmã que “uma amiga” havia enviado ao salão um mictório de porcelana como escultura. Elsa von Freytag-Loringhoven não buscou em vida ser reconhecida como artista, desprezou formações acadêmicas e questionou a arte tradicional. Fomentou performances que promoviam um estilo de vida antiburguês e cultivou o hábito de recolher objetos por onde passava, transformando-os em arte. Sua personalidade, obra e trabalho eram todos uma única coisa: cotidianamente usava maquiagem de cores vivas, selos postais no rosto, brincos de colher de chá, adornava-se com pássaros vivos e chegou a criar um sutiã de lata de tomate. Seu trabalho foi transgressor, forte, questionador de regras e padrões e carregado de críticas. Sua vida foi uma aventura de viagens e locais onde morou e produziu – Berlim, Munique, Itália, Kentucky. Ao chegar em Nova York teve um breve casamento com um Barão em decadência e passou a ser conhecida como Baronesa. Sua poesia sonora e visual foi espirituosa e a fez ter reconhecimento e publicações ao longo da vida. Infelizmente, caiu no esquecimento/apagamento, bastante indignada com o rumo da arte na sociedade e criticando severamente seus pares. Sua morte por asfixia a gás em 1927 em Paris deixa a suspeita se haveria sido um suicídio.

1. Elsa-von-Freytag-Loringhoven, Costume and Makeup Detail
2. “Every artist is crazy with respect to ordinary life”
3. Enduring Ornament (1913) – Private Collection
4. God (1917) – Philadelphia Museum of Art.
5. Dada Portrait of Berenice Abbott (1923-1926) – Museum of Modern Art, New York
6. Baroness von Freytag-Loringhoven posing in her apartment in New York (1915) – Bettmann Achive

Anni Albers

1899-1994

Berlim, Alemanha

A obra de Anni Albers explora principalmente a abstração geométrica em suportes têxteis – desde requintadas “tecelagens pictóricas” em pequena escala a grandes tapeçarias e tecidos projetados para produção em massa. Albers também foi gravurista, desenhista e escritora. Nascida em uma família de posição econômica confortável, sempre soube que queria ser artista e se rebelou indo estudar artes por conta própria. Aluna talentosa da vanguardista escola Bauhaus, sua intenção inicial era estudar pintura. Mas, como a maioria das mulheres de sua época, encontrou mais liberdade artística na Oficina de Tecelagem, na qual futuramente lecionou e depois chefiou. Seu trabalho revolucionou o design têxtil em todo o mundo, provocando grandes transformações na maneira em que vemos o tecido dentro de uma lógica artística – a arte têxtil sempre foi relegada à categoria de ofício menor, artesania. Anni Albers se interessava muito pelos métodos antigos de tecelagem, como o tear, o que não a impediu de agregar novas tecnologias em sua produção. Usou exaustivamente linhas e fios de cores vibrantes, misturou materiais tradicionais e industriais – juta, papel, crina de cavalo e celofane – e trabalhou de maneira totalmente inovadora para os padrões da época. Tinha como objetivo valorizar os trabalhos manuais e estimular a sensibilidade do espectador, provocando o desejo tátil com as obras. Viajou muito pelo mundo e estudou as manufaturas de tecido das sociedades tradicionais da América Latina, em especial do Peru e México. Foi a primeira designer a ter uma exposição solo no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1949.

  1. Anni Albers in her weaving studio at Black Mountain College (1937) – The Josef and Anni Albers Foundation
  2. “The conscientious designer does not himself design at all but rather give the object-to-be a chance to design itself”, Anni Albers (1965)
  3. South of the Border (1958)
  4. Red and Blue Layers (1954) – Guggenheim Museum Bilbao
  5. Thickly Settled (1957) – Yale University Art Gallery, New Haven
  6. Serigrafia TR III (1969-70) – Tate

Georgiana Houghton

1814-1884

Las Palmas, Espanha

Georgiana Houghton foi uma artista à frente de seu tempo: pioneira na abstração, inovadora nas incorporação da espiritualidade na arte e vanguardista na divulgação de seu próprio trabalho. Criada em uma religião cristã, começou a pintar depois do falecimento de sua irmã Zilla, que havia sido artista, quando passou a frequentar sessões mediúnicas e a criar seus desenhos “espirituais” marcados por linhas e espirais sinuosas, redemoinhos de cores vibrantes em uma complexa malha de tons e cores específicas. É possível “traduzir” os significados dos elementos usados pela artista porque ela descrevia no verso de seus trabalhos, sob a forma de escrita automática, os sentidos dos pontos, redemoinhos e cores que usava. A decodificação desses elementos, inclusive, está disponível no site georgianahoughton.com/symbolism. A artista recebeu críticas controversas sobre seu trabalho, que era guiado pela mão de seus “amigos invisíveis”, como ela mesma costumava dizer. Entretanto, Georgiana Houghton foi persistente e determinada em apresentar aos outros seu talento, tendo organizado uma exposição individual de maneira independente. Alugou uma galeria renomada e exibiu 155 desenhos em aquarela e lápis, um fracasso comercial que quase a levou à falência. No entanto, Georgiana teve um papel importante na divulgação do espiritismo, sendo reconhecida em seu círculo de amigos e colegas espíritas como pioneira na arte espiritual.

  1. Retrato de Georgina Houghton
  2. “I discovered forms, and designs, and distances, that had been utterly undreamed of, and I realised yet more fully the Love that had bestowed such a gift upon me.”, Georgina Houghton
  3. The Portrait of the Lord Jesus Christ (1862) – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  4. Spiritual Crown of Mrs A A Watts (1867) – Coleção particular
  5. ‘Some holy fire’… The Eye of God (1862) – inscrição no verso credita o trabalho ao nome Correggio como um guia espiritual – Victorian Spiritualists’ Union, Melbourne, Australia
  6. Verso do quadro The Eye of the Lord

Emma Kunz

1892-1963

Brittnau, Suíça

Emma Kunz foi conhecida em vida como curandeira telepática – seus desenhos geométricos em estilo de mandala, criados com ajuda de pêndulos, eram utilizados em rituais de cura. Artista autodidata, Emma Kunz se descrevia como pesquisadora e buscava explorar formas abstratas. Os desenhos que realizava eram usados em atendimentos espirituais, posicionados entre ela e seus pacientes. Suas obras não foram datadas nem ganharam título, mas eram carregadas de significado: cada cor e cada forma tinha um sentido exato em sua compreensão do mundo. A gruta onde Emma Kunz praticava seus rituais de cura, AION A (aion significa “sem limite” em grego), tem suas pedras vendidas nas farmácias por toda Suíça em embalagens estampadas com seus desenhos. A artista deixou um legado de mais de 400 trabalhos, hoje preservado e divulgado pelo Emma Kunz Zentrum, em Würenlos.

  1. Retrato de Emma Kunz
  2. “Shape and form expressed as measurement, rhythm, symbol and transformation of figure and principle”, Emma Kunz ao descrever seu trabalho
  3. Trabalho nº 003
  4. Trabalho nº 396
  5. Trabalho nº 012

Anita Malfatti

1889-1964

São Paulo, Brasil

Anita Malfatti é, provavelmente, a artista mais conhecida entre as brasileiras que abordamos no curso e, até aqui, no “Elas Estão Aqui na Arte”. Anita Malfatti foi desenhista, gravadora, ilustradora e professora. Se dedicou intensamente à arte, tendo estudado na Alemanha e nos Estados Unidos. Sua obra e suas conquistas estéticas merecem ser enaltecidas sem restrição: as cores fortes, pinceladas firmes e marcadas e um descompromisso com o mimetismo estético são elementos cruciais em sua produção. É possível atribuir a ela a gênese de parte do movimento modernista no país, já que a artista foi responsável por causar furor e revolta na cena artística paulista em 1917 com uma exposição de seus trabalhos recentes, seguida de críticas muito duras e implacáveis – incluindo o texto “Paranoia ou Mistificação?”, de Monteiro Lobato, publicado em um jornal da época. A polêmica em torno de Malfatti e suas pinturas foi fundamental para a articulação dos artistas que viriam, mais tarde, a realizar a Semana de Arte Moderna, em 1922.

  1. Fotografia de Anita Malfatti em seu ateliê
  2. “E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura”, Anitta Malfatti ao descrever sua experiência de quase morte ao tentar um suicídio na estação de trem Barra Funda, em São Paulo
  3. O Homem de Sete Cores (1916) – Museu de Arte Brasileira, FAAP, São Paulo, SP
  4. A ventania (1917) – Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, Brasil
  5. As duas Igrejas (Itanhaém) (1940) – Coleção Particular, São Paulo, Brasil
  6. Samba (1945) – Coleção Gabriel de Castro Oliveira, São Paulo, Brasil

Agnes Martin

1912-2004

Macklin, Canadá

As fotografias do trabalho de Agnes Martin não são dignas de representar as obras vistas pessoalmente. Isso porque as imensas telas criadas pela artista escondem, ao serem apreciadas à distância, incontáveis micro-cosmos de padrões minimalistas, com grades​, tons e texturas que Martin desenvolvia em pinturas. Ao observar de longe essas obras, é possível confundí-las com um estilo mínimo, de formas simplificadas e composições de cores emudecidas. Mas, a própria artista dizia, com certa frequência, que estava muito mais proxima dos expressionistas abstratos – por sua formação de pensamento – que dos minimalistas. Visualmente, porém, seu trabalho nada tinha de pinceladas gestuais e cores vibrantes. Martin desenvolveu um formato característico, sempre em telas de 2×2 metros cobertas por inteiro com grades meticulosamente desenhadas a lápis e acabadas com uma fina camada de gesso. Sua vida era tão misteriosa quanto seus trabalhos: ela era conhecida por ser extremamente reservada, e raramente falava sobre seu trabalho. A artista destruiu obras do começo de sua carreira, evitou ao máximo a publicação de monografias sobre sua arte e fez amigos jurarem que não falariam sobre ela após sua morte.

  1. Foto de Agnes Martin
  2. “Eu gostaria que meu trabalho representasse beleza, inocência e felicidade. Eu gostaria que todos eles representassem isso.”
  3. With My Back to the World (1997) – MOMA
  4. I Love the Whole World (1999) – Tate
  5. Friendship (1963) – MOMA
  6. Gratitude (2001) – Guggenheim Museum