Claude Cahun e Marcel Moore

1917-1990/ 1982-1972

Nantes, França

Claude Cahun (nascida Lucy Schwob) adotou o nome de gênero neutro em 1917. Falar dela sem mencionar sua companheira de vida, Marcel Moore – pseudônimo de Suzanne Malherbe -, seria impossível. Juntas, exploraram novas maneiras de representar a homossexualidade feminina, sendo precursoras do gênero neutro. Marcel colaborou com Cahun em várias obras escritas, esculturas, fotografias, fotomontagens e colagens, ainda que sua participação nos trabalhos tenha ficado sem crédito por muitos anos. Claude Cahun é conhecida principalmente por seus autorretratos, nos quais assume uma ampla gama de personagens, encenando imagens de si mesma que questionavam a ideia de gênero estático: de cabeça raspada, travestida de homem, de mulher, com a boca em formato de coração, deusa hindu, sob uma redoma de vidro. Supõe-se que, por trás desses “autorretratos”, possivelmente Marcel estaria clicando e operando o equipamento. Em 1922 a dupla organizava salões de artistas em sua casa, convivendo de maneira próxima dos grupos surrealistas e dadaístas. Cahun foi mebro ativo da resistência à Segunda Guerra Mundial. Em 1944, ambas foram presas pela Gestapo e condenadas à morte, mas felizmente o conflito acabou no ano seguinte, antes de sua execução. Mas a saúde de Cahun nunca mais foi a mesma – ela lutou contra a anorexia por toda a vida – e a artista faleceu em 1954. Moore, por sua vez, se suicidou em 1972, e está enterrada junto de Cahun. Após mais de 50 anos de anonimato, seu trabalho foi redescoberto no fim dos anos 80 e, hoje, é referência para diversos historiadores, autores e artistas com perspectivas teóricas pós-modernas, feministas e queer – sendo, inclusive, considerada uma das precursoras da arte drag.

  1. Claude Cahun e Marcel Moore Self-Portraits Reflected in a Mirror (1920) – Jersey Heritage Collections
  2. “Under this mask, another mask; I will never finish removing all these faces.”, Claude Cahun, heliogravura feita por Marcel Moore para Aveux non avenus (1930)
  3. “Beneath This Mask” Autorretrato (1928) – Coleção Jersey Heritage Trust
  4. “I am in training don’t kiss me” Autorretrato – Coleção Jersey Heritage Trust
  5. Aveux non Avenus [Confissões rejeitadas] (1930)

Frida Kahlo

1907-1954

Cidade do México, México

Talvez a artista mulher mais conhecida de todos os tempos, a pintora mexicana Frida Kahlo é fonte de incontáveis livros, exposições e pesquisas sobre sua vida e obra. Ainda que tenha renegado o título de “surrealista”, é impossível não mencioná-la como o maior expoente do movimento que teve origem na França, sob liderança de André Breton (que via o México como um país surrealista por natureza). As obras de Frida Kahlo podem ser descritas como odes simbólicas à sua biografia, à sua ancestralidade, à sua nação e à sua ação no mundo. Em vida, Frida não gozou do reconhecimento outorgado ao seu companheiro, Diego Rivera – ele, inclusive, pouco fez para ajudá-la em sua carreira artística. Mas a artista também não precisava de ajuda. Reconhecia sua própria potência, afirmando-se até mesmo como maior que o marido. Sua história cheia de tormentos físicos e emocionais – a poliomelite na infância, o acidente de ônibus aos 18 anos, as incontáveis cirurgias, os abortos e as conturbadas relações amorosas – fizeram de Frida uma figura cultuada não apenas por seu trabalho. É na sua obra onde ela revela sua face mais admirável e mais cativante. Das mais de 140 obras que pintou, 55 foram autorretratos, o que revela a dimensão pessoal que se funde com símbolos de mexicanidade e elementos oníricos. A qualidade de sua obra é resultado de pinceladas precisas e detalhadas, de uma combinação de cores muito singular (entre tons vibrantes e sombrios, saturados e amenizados), sempre impregnada de uma camada emocional. Frida Khalo também poderia ser considerada ativista: foi membro do partido comunista, envolveu-se na preservação de artefatos etnográficos mexicanos. Vestia-se com roupas típicas, adornos e estampas tradicionais mexicanas, na época associadas às camponesas ou mulheres das classes mais baixas. Frida foi capaz de construir sua própria imagem e o imaginário decorrente de todo seu exotismo e singularidade, erguendo uma personagem de si mesma que hoje supera – e muito – suas contrapartes masculinas.

1. Retrato de Frida Khalo em seu ateliê
2. “[Rivera] does pretty well for a little boy, but it is I who am the big artist”, Frida Kahlo em entrevista para Florence Davies (1933)
3. Autorretrato na fronteira entre o México e os Estados Unidos (1932) – Coleção Particular
4. Sem título (Autorretrato com Colar de Espinhos e Beija-flor) (1940) – Harry Ransom Center at The University of Texas at Austin
5. Autorretrato (1948)
6. What the Water Gave Me (1938)  – Coleção de Daniel Filipacchi, Paris

Angelica Kauffman

Angelica Kauffman foi reconhecida desde cedo como uma prodígio infantil, tendo seu pai, também pintor, como professor. Trabalhando com o pai, passou pela Suíça, onde nasceu, e também pela Áustria e Itália. Aprendeu várias línguas, incluindo alemão, italiano, francês, inglês e, numa certa altura da vida, tendo talento musical e para a pintura, teve que escolher um dos caminhos, optando pela arte. Em 1754, com a morte da mãe, seu pai decidiu mudar-se para Milão, o que se seguiu de diversos longos períodos na Itália, culminando na influência pelo neoclacissismo e pelo rococó ao passar por Roma, e em sua aceitação na Accademia di Belle Arti di Firenze, em 1762. Viveu apenas 15 anos em Londres, mas foi o suficiente para cravar seu nome para sempre na cena artística local. Foi membro-fundadora da royal Academy (1769), junto da única outra mulher a participar do grupo, Mary Moser. Angelica Kauffman foi uma pintora extraordinária, com talentos para retratos e também para cenas históricas clássicas. Teve sucesso financeiro e reconhecimento de seus pares. Voltou para a Itália em 1780, e, em 1794, pintou o autorretrato “Self Portrait of the Artist Hesitating between the Arts of Music and Painting”, no qual enfatiza a difícil escolha entre a pintura e música, em homenagem à morte de sua mãe.

  1. Auto-retrato por Kauffman (1770-1775) – National Portrait Gallery, London @nationalportraitgallery
  2. “Tenho apenas um pedido a fazer, para enviar para casa minhas fotos, caso seja exibido”, em carta ao carta ao Presidente e ao Conselho, para barrar a exibição de uma obra na Exposição de Verão no The Conjurer, de Nathaniel Hone que expunha boatos de sua vida pessoal
  3. Portrait of a Lady as a Vestal Virgin (1781 – 1782) Old Masters Picture Gallery, Dresden State Art Museums, Dresden, Alemanha
  4. Self Portrait, the Artist Hesitating Between the Arts of Music and Painting (1791) – National Trust, Nostell Priory @nationaltrust
  5. Valentine, Proteus, Sylvia and Giulia in the Forest (1788 – 1788) – The Davis Museum at Wellesley College, Wellesley, Estados Unidos @thedavismuseum

Artemisia Gentileschi

1593-1653

Roma, Itália

Artemisia Gentileschi talvez seja o nome feminino de maior reconhecimento entre o renascimento e o barroco europeu. Primogênita de um pai pintor, Orazio Gentileschi, ela cresceu no Ateliê, cercada pelos irmãos que não demonstravam tanto interesse ou jeito para a arte. Há um apelo muito grande em sua história pessoal, depois de ter sido vítima de um estupro de um pintor amigo de seu pai e, na época, seu professor. O escândalo, o julgamento criminal, as pinturas realizadas entre 1611 e 1612 e todas as fofocas são um material já bastante explorado na literatura especializada. Mas é possível falar de Artemisia Gentileschi para além da posição de vítima. Ela foi capaz de pintar personagens femininas heróicas de maneira tão singular que suas obras rivalizam a de grandes mestres, especialmente quando citamos a cena bíblica de Judite decapitando Holofernes. Mas o entendimento de Gentileschi sobre a forma feminina também é um aspecto único em sua produção, que também inclui autorretratos.

Dica de leitura: “Artemisia Gentileschi: trajetória biográfica e representações do feminino”, por @cristinetedesco

  1. Autoretrato (1615 e 1617) – Allen Phillips/Wadsworth Atheneum
  2. Declaração trocada em cartas com Galileu Galilei
  3. Judith decapitando Holofernes (1612-1613) – Museu de Capodimonte, Nápoles
  4. Autorretrato como Alegoria da Pintura (1638 e 1639) – Windsor (Inglaterra), Royal Collection
  5. Susana e os anciões (1610-1611) – Schloss Weißenstein, em Pommersfelden, Alemanha

Sofonisba Anguissola

1532-1625

Cremona, Itália

Sofonisba Anguissola vinha de uma família da baixa aristocracia e recebeu ensino em artes desde jovem no Ateliê de Bernardino Campi, iniciativa rara para o século 16. Seu pai acreditava que educação em artes era um prestígio social na corte, e, logo, Sofonisba começou a ser reconhecida por seu talento, primeiro em autorretratos, depois na retratística profissional. Foi provavelmente a primeira artista a ter uma carreira local e internacional, ao ser convidada para trabalhar na corte Espanhola de Filipe II, onde permaneceu por 14 anos. Entre seus retratos mais notórios estão os registros de duas das mulheres de Filipe, Isabel de Valois e Ana da Áustria. Sofonisba Anguissola se tornou uma referência para as artistas mulheres que buscavam seguir carreira profissional.

  1. Auto-Retrato (1556) – Palácio de Łańcut
  2. Bernardino Campi pintando Sofonisba Anguissola (1559)
  3. A partida de xadrez (1555) – Muzeum Narodowe (National Museum), Poznán, Poland
  4. Self-Portrait (1610)